terça-feira, 1 de dezembro de 2009





Foto de satélite da cidade de Brasília: como um grande pássaro voando para o Leste.

Brasília,
Uma cidade que revela os caminhos do espírito.


No século passado, São João Bosco teve um sonho-visão que mostrava o nascimento de uma nova civilização no Plano Central do Brasil. Depois dele, outros apontaram Brasília como uma cidade predestinada. Há dois anos, examinando a planta da capital, o professor Ignácio da Silva Telles identificou alguns símbolos esotéricos da tradição antiga. Comemorando os dezoito anos que Brasília completa neste mês de abril (esta matéria é de 1978), Planeta entrevistou o professor, que fala aqui de suas observações sobre o traçado e a arquitetura da cidade.

As cidades são, de certa forma, como as pessoas. Cada uma com sua personalidade. Assim, há as cidades-fortaleza, rodeadas de muralhas, feitas para defender seu povo. Há cidades destinadas à atividades agrícolas. Há cidades de pescadores, como as do Norte da Escócia. Há cidades comerciais, localizadas em lugares de passagem. E há também cidades como Auroville, no Sul da Índia, construída para o cultivo do espírito. Foi em busca desta personalidade que o professor Ignácio da Silva Telles examinou pela primeira vez a planta de Brasília. Com os conhecimentos que adquiriu após muitos anos de estudos espiritualistas, principalmente da cabala judaica e da simbologia nas religiões, ele acredita ter descoberto em Brasília uma cidade predestinada, uma cidade construída segundo a tradição que deu origem às mais altas manifestações culturais da humanidade.
Planeta: Professor, diga-nos alguma coisa sobre a significação dos símbolos que identificou na planta de Brasília. Por exemplo, a forma de avião que se vê no plano- piloto tem alguma coisa a ver com o simbolismo?
Ignácio da Silva Telles: Parece-me que sim. Só que, em vez de forma de avião, prefiro ver naquele desenho um grande pássaro voando. E, repare bem, este pássaro vai voando do oeste para o leste, do ocidente para o oriente. Ora, nas histórias antigas de alta inspiração, em várias civilizações diferentes, o dirigir-se para o oriente significa estar indo em busca de onde o Sol nasce, ou seja, da fonte da luz.

Sim, mas esta posição geográfica da cidade não resultaria de uma simples coincidência?
Talvez sim. Como talvez sejam coincidências o comprimento das asas do pássaro, medindo 15 km de ponta a ponta; e o comprimento do eixo monumental, que seria o corpo do pássaro, medindo 6 km; e também a leve inclinação deste eixo para o sudeste e não apontando rigorosamente para o oriente. E talvez seja também coincidência que entre os dois prédios de 28 andares que se erguem em forma de colunas no conjuntos de edifícios do Poder Legislativo, no solstício de verão, olhando-se do lado de quem vem do eixo, vejamos o Sol nascer e se erguer. Como podem ser coincidências tantas outras coisas, todas rigorosamente correspondentes a símbolos esotéricos. Não pretendo tirar conclusões nem sugerir teorias a respeito. O que faço é apenas apresentar alguns fatos curiosos.
Um pássaro que voa em busca da grande fonte de luz

Você mencionou o comprimento de 15 km das asas do pássaro de Brasília. Que importância tem isso?
Sempre se entendeu que o 15 é o número que representa a máxima energia possível de qualquer potencialidade. No texto do Gênese que se refere ao dilúvio, por exemplo, conta-se que depois de quarenta dias de chuva, as águas haviam subido de tal maneira que chegaram a passar 15 côvados (medida antiga), uma das mais altas montanhas, como que a dizer que estavam com o máximo poder de destruição. E no Novo Testamento, no Evangelho Segundo João, lê-se que Betânia, a cidade em que lázaro Havaí morrido, distava 15 estádios de Jerusalém. O que significa que Lázaro morreu na maior distância possível dessa cidade sagrada. São 150 os salmos atribuídos a Davi e 150 as Ave-Marias do rosário. E o que é o 150 senão o 15 exaltado, 10 vezes multiplicado? O que observamos em Brasília é o grande pássaro voando em busca da fonte da luz, no dia de maior luz do ano (solstício de verão), com a força do número 15 em suas asas.
E o que significa o número 6, dos 6 km do eixo monumental?
No contexto geral do simbolismo de Brasília, o número 6 se refere à nós, seres humanos, nascidos no sexto dia da criação, presos por um lado às solicitações do mundo e, por outro, ansiando por alguma coisa que nem sabemos o que seja – estranha nostalgia que não permite que nosso tumultuado coração se aquiete.
Você se referiu aos edifícios que formam o conjunto onde funciona o Poder Legislativo. Além da beleza de sua arquitetura, o que mais pode nos dizer sobre eles?
Realmente são belíssimos e, de certa maneira, dominam a paisagem na cidade. Vistos em conjunto, apresentam claramente o formato de um símbolo fálico. Aliás, itefálico, isto é, do falus em condição de exercer a sua mais nobre função. Entretanto, não devemos observá-lo pela perspectiva total de uma estreita mentalidade materialista. O erótico desse conjunto arquitetônico, assim colo logo demonstrarei, refere-se ao Eros dos gregos antigos, o impulso energético que impregna absolutamente todas as coisas de todo o universo e em virtude do qual tudo, na criação inteira, se encontra em perpétuo movimento, e que a tudo vai fazendo sofridamente evoluir em busca do retorno ao Princípio, onde tudo foi gerado. É esse Eros a que se refere Dante no final da Divina Comédia: “O amor que move o Sol, e as demais estrelas”. Este mesmo Eros que, no ser humano, deve ser conscientemente cultivado ao mais alto grau, no sentido de se querer amar cada vez mais vigorosamente e cada vez mais alto, até se chegar àquele estado ao qual se dava o nome de virilidade transcendental.

Duas semi-esferas a nos ensinar o que devemos fazer

Mas quais são os motivos que o levam a considerar esses edifícios como símbolo da virilidade transcendental? Por que não aceitá-los simplesmente como símbolos fálicos no sentido freudiano?
Sobretudo por três motivos: O primeiro é a forma de semi-esfrera dos edifícios onde funcionam a Câmara e o Senado. O segundo são os dois edifícios do fundo, que se erguem paralelos e não apenas um, o que seria razoável se se tratasse de um símbolo teramente freudiano. O terceiro é o fato de esses dois edifícios terem, acima do nível do solo, 28 andares.
Explique-nos o primeiro motivo
As duas semi-esferas foram colocadas, uma em relação à outra, em posição contrária: a da Câmara como se fosse aberta para o alto, a outra, a do Senado, para baixo. A primeira, como que a receber dos céus a luz, o calor e as demais vibrações que ainda mal supomos que existem, todas elas em conjunto denominadas de vibrações ourânicas. A segunda, voltada para a terra, como que a receber as vibrações telúricas. Duas semi-esferas a nos ensinar o que devemos fazer: abrir-nos para recebermos as forças da natureza. Lição de primeiríssima importância, sobretudo para nós, deste século 20; nós que tivemos nossas raízes arrancadas e nos mantemos desvinculados da natureza, com todo o nosso ser trancado, recusando-se a receber a influência dos céus e da terra. As duas semi-esferas estão ali para nos dizer que, se de fato queremos sobreviver no áspero mundo de hoje, isto é, se quisermos fazer sobreviver o que ainda resta de humano em nós, se realmente for nossa vontade segurar em nossas mãos as rédeas de nosso destino interior e não permanecer apenas como joguetes de nossos ímpetos menores, devemos procurar nos aquietar, deixando adormecer a turva agitação do mundo lá fora e adormecer também a turva agitação de nosso mundo interior, para então poder seguir a lição das duas semi-esferas, atentando sem pressa para os infinitos céus e para a terra que em nós habitam, auscultando o ritmo cósmico de suas pulsações profundas. Vacate et videte (aquieta-te e conhece), diziam os sábios os sábios antigos de todas as grandes civilizações do mundo. Be quite and know, ecoavam os maravilhosos poetas ingleses do século 17. E então, sem espanto ou susto, muito tranquilamente passaríamos a entender, sem nenhuma explicação, porque o mundo existe e por que vivemos. Esse desenvolvimento interior visa a atingir aquele estágio de virilidade transcendental.

Uma cidade que segue a dança do Sol em seu giro anual

E quanto ao segundo motivo, referente aos dois edifícios, qual q relação que pode haver entre eles e a virilidade transcendental?
Esses dois edifícios estão localizados de tal maneira que, para quem, situado ao longo do eixo monumental, os observa no solstício de verão, vê de madrugada o Sol se erguer exatamente entre eles. Portanto, são esses dois edifícios que deram a direção da principal artéria de Brasília e, por conseguinte, também determinaram a disposição de toda a cidade. Brasília foi construída a partir de uma rigorosa observância dos pontos cardeais e, mais do que isso, da observância também da dança do Sol em seu giro anual pela faixa do zodíaco. Sua posição corresponde, portanto, a um relacionamento preciso com o movimento dos astros no firmamento. Esse critério era o que norteava na Europa, até a Renascença (em certos casos até fins do século 17, como no caso do Palácio de Versalhes), a construção dos edifícios de grande importância para a vida dos povos. Agora, em nosso país, não é apenas um edifício, mas toda uma cidade que assim foi construída.
Sim, mas e quanto à questão da virilidade transcendental propriamente dita?
Vamos à ela: O Trópico de Câncer, no hemisfério Norte e o Trópico de Capricórnio, no hemisfério Sul, são linhas paralelas que dão o limite até onde o Sol chega todos os anos, devido à inclinação do eixo da Terra. Como sabemos, o Sol, ao se aproximar do Trópico de Câncer, faz alongar os dias e diminuir as noites, produzindo o verão no hemisfério Norte e, obviamente, o inverno no hemisfério Sul. Seis meses depois, ao ir chegando no Trópico de Capricórnio, produz o verão no Sul e o inverno no Norte. Essas duas linhas marcam os limites da viagem solar. Ora, se pusermos essas duas linhas em posição vertical, teremos duas colunas. Há outras duas colunas simbólicas na história, como as colunas do primitivo templo de Jerusalém, o templo de Salomão, as colunas de Hércules e ainda as duas portas do templo de Janus, na Roma antiga.

Os 28 degraus que nos levam à plenitude da vida

Mas qual o exato simbolismo das duas colunas? Apenas o limite da viagem solar?
É simples. Se o sol chega até cada uma das linhas, (cada uma das colunas), sem as ultrapassar, assim também a nossa curiosidade intelectual e o nosso ímpeto de alma para uma vida em plenitude não devem transpor os limites impostos pelas duas colunas de nossa vida interior. Essa limitação, porém, implica, por outro lado, na obrigação de se fazer tudo para atingir esses limites, ou seja, no dever de nos desenvolvermos até alcançarmos o marco das duas colunas. Ora, acontece que cada um de nós já nasce com disposições peculiares para esta ou aquela atividade, incluindo-se, entre elas, inclinações para formas diversas de desenvolvimento psíquico. Isso quer dizer que não podemos alargar os limites estabelecidos por nossas colunas interiores, mas dentro desses limites podemos evoluir ao nível máximo. Nas palavras da velha tradição, cada um de nós pode galgar 28 degraus para se desenvolver em direção à maior plenitude da vida. E os 28 andares dos dois edifícios do Legislativo correspondem aos 28 degraus de que nos fala a antiga tradição.
Ainda não chegamos à ligação desses dois prédios com a virilidade transcendental...
Vamos chegar... O desenvolvimento do ser humano, galgando os 28 andares, não se resume na aquisição de mais e mais conhecimentos, aquisição essa que seria apenas acúmulo de erudição, um mero cultivo quantitativo de inteligência. No desenvolvimento verdadeiro a que estamos nos referindo, o principal é o alargamento da consciência e, consequentemente, da sabedoria. É certo que este é um desenvolvimento sofrido, pois para alcançar os bens maiores, precisamos ir renunciando aos menores. Santo Agostinho dizia: “Inquieto é o nosso coração, Senhor, até que repouse em vós”. Somente o conhecimento do bem supremo, ou do belo, ou da verdade, fará desaparecer em nós qualquer solicitação por bens menos altos. Somente a adesão de nossa vontade a esse supremo bem nos libertará completamente de todos os outros. Por essa razão é que Cristo disse: “A verdade vos tornará livres”. E a conquista dessa verdade, desse supremo bem, nada mais é que a conquista da virilidade transcendental. A cultura humana possui muitas histórias que contam a aventura dessa conquista: a dos argonautas em busca de do tosão de ouro; a dos trovadores medievais cantando a luta da princesse lointaine; a dos cavaleiros da Távola Redonda em busca do Santo Graal; à de Ulisses querendo retornar ao trono de seu reino; a de Peleus procurando pelo mundo a deus Tétis; e tantas outras, desde o antigo Egito.

O valor secreto do homem é sempre infinitamente amplo

E por que são 28 os degraus dessa iniciação?
Não me é possível responder frontalmente a esta pergunta, assim como eu seria incapaz de explicar o que entendo numa sonata de Mozart. São realidades que, mesmo quando compreendidas, permanecem além do reino da razão humana e, portanto, fora do alcance das palavras. Para se entender música, é preciso além do sentido da audição, que se tenha também ouvido musical. Da mesma forma, para se entender a siginificação verdadeira dos símbolos esotéricos, é preciso, além da faculdade racional, que se tenha um especial “ouvido” para os símbolos. E entre os símbolos, os números têm especial importância. Sobre o 28, então, posso dizer algumas poucas coisas. Por exemplo, que ele é o produto de 4 vezes 7. E 7 é o número da realização plena. O sétimo dia é o que vem depois da criação; e Henoch, o sétimo dos varões no Gênese, andou nos caminhos do Senhor e foi arrebatado aos céus. E o 4? Bem, temos que vencer os 4 elementos para chegar à 5ª essência; que absorver 4 formas de conhecimento; que passar pelos 4 batismos; o da terra, o do fogo, o do ar e o da água. O 4 indica etapas à serem vencidas. 4 vezes 7 quer dizer então, que de 4 formas diferentes, devemos chegar ao 7 para atingir a realização total do Homem verdadeiro em 28. Além disso, 28 também é o valor secreto de 7. Qualquer número, além de seu valor próprio, possui um valor secreto. O número 5, por exemplo, em seu valor próprio é mais que 4 e menos que 6. Porém, o 5, para ser 5, precisa necessariamente que 1 exista, em toda a sua virtualidade e mais o 2, o 3 e o 4. Ora, somando-se todos os números anteriores e mais o próprio, obtêm-se o que era chamado, na doutrina da tradição, o valor secreto do número. Assim, o valor secreto de 5 é 15 e o de 7 é 28. Do mesmo modo que os números têm seu valor secreto, nós também o temos, somando-se os fatores que contribuíram para que agora nós sejamos o que somos. Em verdade, infinito é o número de fatores que nos produziram, pois que podemos remontá-los a partir da história próxima de nosso ambiente familiar e social até a mairs remota antiguidade do ser humano emergindo da animalidade e assim por diante, até a formação do sistema solar e mesmo infinitamente mais distante. Portanto, nosso valor secreto nos aponta para uma meta no infinito diante de nós. E realmente, nossa meta verdadeira é bem além de todo o pensar, de todo o imaginar e de todo o querer consciente. Nós somos um inseto em busca do Absoluto. Os 28 andares, enquanto valor secreto do número 7, procuram acordar em nós reflexos adormecidos de nossa verdadeira fisionomia humana, confusas e apagadas lembranças do que realmente valemos. Espantosamente nos dias de hoje, Brasília é mais uma vez o pronunciamento da velhíssima lição, que tão raramente conseguimos aprender:

Todo nosso saber é saber Deus.
Todo nosso pensar é pensar Deus.
Todo nosso querer é querer Deus.
Todo nosso amar é amar Deus.
Todo nosso viver é viver Deus.

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